domingo, 9 de outubro de 2011

Obrigação de diploma faz patrão por a mão no bolso




por Clóvis de Almeida Godoy

 Os proprietários de empresas de mídia são na grande maioria pessoas sem formação acadêmica, que atuam na área há muitos anos, ou filhos destes que herdaram o veículo sem ter cursado o jornalismo. Eles se sentem seguros com o “negócio” e não há por que se preocupar com os destinos do jornalismo, uma vez que estão adaptados às regiões que atuam, onde contam com colaboradores que escrevem conforme os interesses do órgão, da mesma forma que os “jornalistas” de suas redações, formados ao longo do tempo, uns com outros, quase que por osmose. Em meio à gente que tenta fazer jornalismo, há os que nunca passaram perto de uma faculdade, mas que são capazes de fazer melhor do que muitos bacharéis com diplomas, que sustentam um certificado como se esse lhes garantisse competência.

É natural que alguém sem formação acadêmica não exija o piso salarial, por mais capacitado que seja, e, é nessa lacuna que os patrões pretendem permanecer. Se por um lado o diploma é um caminho para a legalização da profissão, por outro não é nenhuma garantia de qualidade; infelizmente.

É preciso que o diploma seja um quesito necessário para o exercício do jornalismo, pois só assim chegaremos a uma posição sólida da profissão, mesmo que demore muitos anos para que isso aconteça. Se as faculdades não conseguem fazer talentos, os talentos acabam procurando as faculdades.

Muito se fala em exigir diploma, mas também é preciso exigir qualidade de ensino. De nada adianta cursos de comunicação com professores que não são do ramo. A teoria é muito importante, mas, sem o exemplo da prática cai-se num vazio que desilude o acadêmico e acaba por formar gente despreparada, que entrou no curso pelo glamour que a profissão representa, talvez achando que um dia será William Bonner ou Fátima Bernardes. A vida é cruel com os sonhadores sem talentos.

É muito importante sair da faculdade sabendo as normas, ética e quem são os principais autores que escrevem livros teóricos sobre jornalismo. Mas também é importante ir a campo com conhecimentos de como fazer perguntas aos entrevistados; pauta; montagem da lauda; onde e como colocar as informações de textos, fotos e legendas, para a redação saber o que o jornalista quer de sua matéria.

O programa ‘Profissão Repórter’ da Globo mostra o que um jornalista recém formado faz. É lindo ver que os novatos praticam a profissão em detalhes de tudo o que o jornalismo exige do profissional. Será que a Globo ensinou aqueles focas a utilizarem câmeras, ou eles aprenderam na faculdade? A resposta é: na faculdade. A grande pergunta então fica no ar: Quantas faculdades fornecem e ensinam o acadêmico a lidar com câmeras e softwares de edição? Lamentável essa parte, melhor pular...

Felipe Suhre é um dos contratados do programa. “Acho que o diferencial nessa profissão é a sua vivência, o seu olhar sobre o mundo, seu valores. Aprender a segurar um microfone e falar direito, qualquer um aprende. Sensibilidade para perceber o outro e os problemas, não se ensina”, declara ele em seu blog.

A velha máxima de que, quem faz a faculdade é o aluno só vale pela metade, porque, de nada adianta esse aluno se desdobrar em livros de teorias, se a prática tem que ser buscada por conta própria, nos estágios da vida. Se for para aprender no grande campo, onde chora menos quem pode mais, não precisa faculdade. Está na hora de acordar todo mundo. Vamos exigir diploma sim, mas também capacidade de ensinar das faculdades desorganizadas que não respeitam o aluno, levando o calendário letivo com “a barriga”, sem investir na estrutura de ensino. As horas perdidas em devaneios e permitidas por professores omissos só ganharão importância na hora em que o aluno deixar de ser acadêmico para ser mais um na fila de emprego, concorrendo a uma vaga nas redações do mundo. O mais lamentável de tudo é que quase todas as faculdades de jornalismo são pagas, e dinheiro de aluno não é capim, apesar de que alguns jovens acham que seus pais pagam seus cursos com verbas que caem do céu.

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